RESENHA: Quia Nominor Leo
- Izabella Souza
- 5 de set. de 2016
- 5 min de leitura
Sinopse: “Um partido político promove rinhas de galos com crianças pré-púberes. Cada político tem seu pet, treina-os e castiga-os como bem querem. Um menino e uma menina num ringue, assistidos microscopicamente perto por um bando de abutres que, a cada vitória, fatura seis dígitos.
O tempo passa. Ele vira escritor, consegue deixar o passado para trás, tem diploma de jornalista, três livros publicados, um que está prestes a ganhar a Alemanha. Seu algoz, seu próprio pai, está morto. Ele, o Jornalista, um homem livre.
Ela é engolida pelo passado, pelo partido, vira um cão de aluguel, assassina silenciosa. Decepa e castra qualquer um a quem mandarem.
Os líderes do partido estão em divergência, chantageiam-se, dividem-se. Metade quer a cabeça dele, metade quer a cabeça dela. Um jornalista nesse mundo vale tal qual um assassino. A informação é a morte, letal como uma 9mm, devastadora como dinamite. Eles se encontram depois de quase vinte e cinco anos. Alguém vai perder a cabeça. O partido ou eles?
Quia Nominor Leo, do latim "Porque me chamam Leão", do Português sem frescuras: Você sabe com quem está falando? ”
Vou começar fazendo uma breve biografia da autora que pelo que sei tem 24 anos, é paulista e estuda Letras – Grego ou Latim. Mas o que mais me chama atenção nela é a sua simplicidade e a sua escrita, que mais parece uma conversa do que a narração de uma história. Ela começou a escrever no Wattpad uma plataforma de publicação gratuita para autores desconhecidos e que estejam iniciando no mundo literário, muitos autores hoje muito reconhecidos no Brasil começaram nessa plataforma, como por exemplo a Camila Moreira que continua escrevendo na plataforma até hoje. Aviso que algumas partes conterão spoiler do livro.
Então, voltando eu iniciei lendo “O Próximo Homem Da Minha Mulher Sou Eu” um romance, mas ainda não acabei e logo mais tem resenha desse livro também. Depois, eu via que no grupo que ela tem no facebook se falava muito sobre esse “Quia”, até que um dia eu resolvi começar a ler.
Bem, no começo foi uma porrada. Você pensa que pela capa é um livro bem cabeça, sabe cheio de teorias e tal, até que é, mas ele tem muito mais do que isso. Nos primeiros capítulos eu fiquei meio perdida, a narrativa me deixava desestruturada, e por vezes era muita informação, ela mesma avisou que estava um pouco confuso, mas a questão era eu entender, não ela. Enfim, nos primeiros capítulos você conhece a Bela uma moça que é matadora de aluguel, e isso que me pegou, desmistificou aquilo de matador de aluguel é homem, forte, malhado e alto. Enquanto, ela é magra, para alguns pequena e mulher.
Bela é na verdade uma mulher com alma de menina que tem um passado complicado demais, duro demais, desumano até. Seria indelicado da minha parte descrever o que ela passou para você, caro leitor. Estaria eu estragando a surpresa de uma bela leitura que você vai realizar ainda. A Bela, é na verdade Dog e você vai saber porque depois de alguns capítulos, ela sofreu muito e sofre, consequência do que passou. Mas ela é forte, e como toda mulher, vai aguentando até não poder mais. Sorri pouco mais tem um coração do tamanho do mundo.
Falando em coração, é hora de falar da Dixie, uma negra muito linda, com dreadlocks coloridos, um batom poderoso, “mini shorts e moletom”. Uma hacker de dar inveja em marmanjo que passa horas na frente do computador tentando invadir sistema do Bradesco. A moça tem apenas 25 anos, e também não tem um histórico muito bom, uma vida sofrida, aprendeu a lutar para sobreviver, mas sempre manteve em si uma curiosidade que não se cabia, aprendendo muito ao longo dessa vida, que para ela fora tão longa. Mas tem um coração do tamanho do universo, uma capacidade de amar sem tamanhos.
A Dixie, que na verdade se chama Eurenice, salvou a Bel. Uma vez eu li que só uma mulher salva a outra e não percebi ser verdade até ler isso na ficção e ver isso acontecer na vida real. E elas, sim as duas, se salvam o tempo todo. De se afundar nas memorias e voltar a viver na escuridão que é o passado, de sofrer. Mas principalmente, lutam e morrem uma pela outra.
E logo mais na narrativa, aparece o Ulisses, que é filho de ex-Senador que mantinha uma rinha de galos, só que com crianças, que lutavam diariamente até a morte por suas vidas. As crianças eram mantidas em situações miseráveis, e eram tratadas como cachorros. Cada criança tinha um pai, e devia-lhe respeito e obediência. A rinha era mantida por um sistema de apostas transmitido virtualmente que gerava muito dinheiro. Daí você já fica com um nó na cabeça, e o Ulisses, é o sortudo que apesar de viver nessas condições, colocado lá pelo próprio pai, é salvo pela bondade da mãe e segue sua vida. Se torna jornalista, e atualmente é escritor. Diga-se um escritor de sucesso.
Ulisses, descobre “por acaso” uma fita que contém a gravação de uma dessas lutas, na qual uma menina pequena e magra, com os cabelos muito escuros luta com outros meninos. Sabe Deus como essa menina vence. Mas sempre que algum menino ganha, ela é que é dada de prêmio para ele. De acordo que cresce passa não só a servir aos meninos mas também aos amigos de seu pai que pagam valores absurdos para tê-la. Ulisses, revoltado, com o senso de humanidade gritando começa uma busca por essas crianças afim de buscar justiça por eles. Mal sabe ele que o sistema já está todo comprado pela rinha, e que está tão envolvido quanto.
E no meio dessa correria toda, aparece Heitor, homem alto, forte, malhado e peso pesado. Também matador de aluguel, e uma das crianças que cresceu na rinha. Cresceu para apanhar e para bater, foi criado para ser vencedor, nada menos que isso. Cresceu para servir lealmente o pai. É um homem, igual a Bel, com alma de menino. A rinha lhe tirou coisas essências amor e família foram uma delas.
Depois desse monte de spoiler e da descrição desses personagens tão bem construídos, para não expor ainda mais o livro. Digo que esse livro, que é na verdade uma trilogia, foi um dos melhores livros que li. Que possui várias referências magnificas de livros, além de te fazer suspeitar que no fundo a escritora já foi hacker em outra vida de tanta gíria dessa área.
Quia é uma porrada na gente, algo que te faz repensar a vida, e não só de um modo filosófico, mas que te faz mais humano. O livro tem muita briga, muito sangue e tem cada reviravolta que só um leitor de coração forte pode aguentar, é uma leitura que em algumas passagens você tem que parar e refletir, e depois voltar e devorar mais um pouco. Por incrível que pareça, li o livro até rápido, em menos de uma semana já havia lido tudo.
Mas, mesmo Quia tendo toda essa “sanguinolência”, essas referências geeks e essa história forte, ele no final é uma história sobre renúncia, sobre amor, não o amor romantizado e idealizado em novelas e livros de bancas de jornais, mas um amor que é tão grande e puro capaz de curar, de moldar e de dar segurança. É sobre família, sobre o que é ser família e sobre amizade, isso é o mais importante.
Antes de terminar, digo para se preparar, por que se for ler, haja lenço de papel, viu. Eu chorei muito em algumas partes, porque não é sobre um partido, é sobre se tornar humano no seu âmbito mais primitivo. Vou voltar a dizer, é sobre amar.
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